quarta-feira, 10 de junho de 2009

Primeiras experiências com " O URBANISMO"


As primeiras experiências nem sempre são satisfatórias... Ainda lembro vividamente do traumático 3° ano de faculdade, onde tive a minha primeira e única disciplina de projeto urbano. Éramos 5 no grupo. Cada um já tinha trabalhado com o outro, em duplas ou em trios, mas nunca todos juntos. Os cinco amigos juntos... Por que deu errado?
Na época, todos relutavam contra a temível palavra: URBANISMO! Fomos doutrinados para enaltecer a forma, um culto ao quase que sagrado objeto! E, quando se mencionava a expressão "a relação com o entorno", nós, como bons formalistas de 5°período, franzíamos a testa e nos limitávamos a apontar o indicador a uma planta de situação em escala 1/750.

Com unhas e dentes, lutamos pela escolha da área de projeto, que ia da estação Leopoldina a rodoviária Novo Rio. Hoje, vejo e compreendo a complexidade desse trabalho, mas a 3 anos, bastava falar que o nosso projeto era uma "estação intermodal", que tinha mergulhões, um edifício "babaloo" com escadas rolantes e ainda um VLT. Era coisa fina! Um luxo puro - Para os formalistas, é claro!
O projeto veio, e junto com ele vieram brigas e choros. Era o tal do "urbanismo", que tanto abominávamos, o responsável pela semente da discórdia.

Imagens do projeto urbano: Eu, curiosamente, a escala humana em prantos, quando tinha 7 anos

Um ano se passou. Eu e Nathi (Nathália Mussi, minha querida amiga & partner de projetos acadêmicos mirabolantes) nos deparamos em mais uma batalha contra o temível "urbanismo", no 7°período.
Era um workshop, convênio entre nossa faculdade e Paris Malaquais. A proposta de trabalho era fazer uma intervenção na área da Esplanada de Santo Antônio, com base nos conceitos de um texto de Sola Morales.

O choque de culturas, egos e uma aversão a um jeito europeu de trabalhar a nossa Esplanada, acabou por levar o grupo (2 francesas e 2 brasileiras) a uma discussão conceitual vazia e apressada. Houve uma dificuldade de se chegar a um acordo sobre o uso metafórico dos conceitos, que se estabeleceu de uma forma totalmente literal, por parte das francesas. Para exemplificar, quando falávamos "ah, tipo um neurônio", nossa digníssima equipe vinha com prédios que remontavam piamente todas as partes de um neurônio (dendritos, axônio, corpo celular), ou seja, todas as partes necessárias para uma sinapse perfeita com o prédio vizinho, que, adivinhem, também seria um neurônio!

E assim tentávamos, em vão, seguir em frente. Mesmo mudando as associações, não fomos bem sucedidas. Caso falássemos em redes, tudo se materializava em uma placa Intel, ou então, um sistema "plug and play" seria capaz de gerar um "perigoso" cabo USB, com potencial para sanar todos os problemas de circulação existentes...e por aí em diante.

Além disso, se configurava na proposta um derramamento desordenado de funções, programas e utilidades, nunca questionados efetivamente em sua relevância para o sítio em questão. Nesse contexto, eu a nathi passamos a refletir paralelamente a intervenção urbana em si, o conceito de intervenção urbana, o ato da intervenção de projeto urbano (de sua idealização até a materialização em desenho), que já era tomado como verdade absoluta e dogmática pela metade francesa. Para elas havia a convicção de que sempre bom intervir, não importa em que, nem como.

O rompimento do grupo foi inevitável. A reflexão prosseguiu, tomando a forma do próprio trabalho. Colocou-se em pauta o repertório comum que já é preestabelecido antes mesmo do contato com o lugar, ao que denominamos “saquinho de utilidades urbanas” (termo que ouvimos em uma banca do 4°período, pela prof. da FAU-UFRJ, Fabiana Izaga). Contidos neste saquinho estariam desde mobiliário urbano até palavras-conceitos, todos prontos, tais como: conexão, memória, permeabilidade,fluidez…todas as palavras que tem por objetivo dar um "up" no local (fazer uma "make-up"). E que, no caso MACURB, são repetidos a exaustão, até perdem qualquer sentido, tornando-se termos vazios, que embora reduzidos a uma “maquiagem urbana”, ainda constituem um objetivo, pois tem um fim em si: O manifesto, o questionamento!

E foi um manifesto!
Instigante manifesto!

“Você acha que esta ruim? A MACURB faz o pior por você!”

Folders da MACURB


Identificamos a necessidade de uma instância anterior a intervenção, uma instância previa de um pensamento. A reflexão sobre sua legitimidade, ou o questionamento do que estava sendo considerado como necessidade, na verdade, não passava de uma vontade própria, pré-conceitos, importados diretamente da Champs Elysees (“Vamos colocar uma universidade perto Catedral! -Por que?, Porque sim. Ora!)

Nesse sentido, foi importante o questionamento da necessidade do lugar enquanto entidade fenomenológica, que nem sempre se presta a intervenção de um programa pré-idealizado. Principalmente, por se tratar de uma intervenção gerada por um repertório pronto, que tentava se sobrepor ao próprio lugar.

A condição para o rompimento era fazer com que a banca e a "platéia" entendesse o recado, ou seja: havia de ser engraçado! Caso contrário, todo o reboliço iria por água abaixo. Como não falávamos francês, e também achamos um abuso gastar nosso inglês, uma vez que nossos colegas ignoraram as regras básicas da boa convivência e apresentaram suas propostas em francês, para um público 80% brasileiro com 4 pessoas que entendiam francês (nessa hora, os neurônios até que foram bem úteis), nos limitamos a uma apresentação a lá Charles Chaplin: caladas, nós passávamos o power point. Ao som de risos franceses, brasileiros e de Paola Berestein!

All done!


(Devo ressaltar que apezar do aparente clima de revolta, nossa relação com a ex-dupla foi a mais amistosa possível. Chopp no BG no fim da banca!)

2 comentários:

  1. querida, estou absurdamente orgulhosa de poder dizer que te conheço e sou sua amiga! na surdina vc criou um dos melhores blogs que já vi na vida!!! sempre adorei o manifesto macurb! sensacional o texto final analisando pontos focais de sua vida e precebendo que todo ponto focal irradia algo pra algum lugar, mas a gente pode decidir quanto e como...de tirar o fôlego e de dar vontade de subir na mesa e gritar, pois todo arquiteto, urbnista, ser humano, já se sentiu assim... mille, você começa agora a sua fase adulta, na qual voce se compromete nao so com voce, como faziamos todos nós ate ontem, mas com o entorno imediato.... sendo você o ponto focal e irradiando conhecimento, e o mais importante, instigando a discussão do mesmo, o que com certeza gera riquezas incalculaveis! Parabéns amiga! Que Deus te abençoe e você tna sempre força pra lutar e gritar quando preciso for.

    Beijos
    Caroline Moraes ( arquitet to be - soon i hope!)

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  2. Primaaaa!!! Que maravilha!
    Não entendo nada de arquitetura, mas esse seu blog está perfeito! hehe
    O que eu mais gostei foi aquela sua foto com 7 anos...kkkkkk...já que eu viajo um pouco na parte urbanística da coisa! Bom, parece que vc encontrou algo ue estava procurando, né? Ah! Vc deve ter estranhado o "prima". É que não ficava legal escrever "perua" aqui e...eu tb queria deixar bem claro: é minha prima, gente, é minha primaaaa!!!

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